“Um viajante ou qualquer outra pessoa que passasse pela nossa fazenda era convidada a almoçar, jantar, pernoitar. Se essa pessoa estivesse sem tempo, meu pai providenciava para que lhe dessem alimentação para que comesse na viagem.”
Mamãe Clory
Clory Fagundes de Marques
Nossa história - Clory Fagundes de Marques nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 6 de junho de 1917. Aos 3 anos de idade, se mudou com a família para o Mato Grosso do Sul, para morar em uma grande fazenda da região.
Desde pequena, conviveu com a natureza e os animais e aprendeu com o pai, o coronel Athaliba, o amor pelo próximo e a importância de cuidar de quem mais precisa:
Ajudar o outro estava em suas raízes e em sua essência. Aos 20 anos, Clory conhece e se apaixona por quem seria o grande homem de sua vida, Oreste Vieira Marques. Mas a vida colocou alguns percalços no caminho do casal, que só viria a se casar em 1943.
Bebê aparece em sua porta:
E é quando começa a história da Mamãe Clory que tanto respeitamos, em um certo dia 28 de março de 1943, como a própria Mamãe Clory contava:
O casal recém-casado acolheu aquela pequena de braços abertos. Cada dia que passava o amor só aumentava e ambos não conseguiam mais desgrudar da menina. Essa foi a primeira filha adotiva de dona Clory e seu Oreste.
O segundo filho adotivo foi um menino e o primeiro filho natural do casal nasceu em 1944. Depois, a família se mudou para Ponta Porã, ainda no Mato Grosso do Sul e cada vez mais o número de filhos ia aumentando.
Quando Oreste conseguiu um emprego em Andradina, São Paulo, todos se mudaram para começar uma nova vida na cidade. “Eu nunca tive medo de nada. Juntei os cinco filhos, um monte de sacos com panelas, com tudo o que era coisa”, contou Mamãe Clory, anos depois.
Ela, junto aos filhos, se virava costurando, cozinhando e chegou até a assumir o restaurante de um hotel no local. E o número de filhos só aumentava: na década de 60, já eram 87 crianças. Nesse momento, houve um ponto da virada na família: “Meus filhos tinham conforto, tinham sociedade, tinham tudo. O problema é que ficavam limitados nos estudos, não tinham futuro. Eu me preocupava com os que estavam se casando, que não tinham uma boa profissão. Além de não ter faculdade em Andradina, também não tinha por lá trabalho para os jovens”, percebeu dona Clory.
E foi essa visão que a levou a se mudar novamente para uma nova cidade, em busca de melhores condições para os filhos.
Vinda para São Bernardo do Campo e
Começo do Lar da Mamãe Clory
Não tardou a família toda, com os 87 filhos, pegar um ônibus para São Bernardo do Campo, no Grande ABC. A prefeitura ajudou, doando um terreno para o início da construção da Associação Cristã Verdade e Luz, mais conhecida como Lar da Mamãe Clory, uma associação beneficente, que hoje possui restaurante, bazar, vendas de móveis usados e outros utensílios que a casa ganha, geradores de recursos para manter as mais de 100 crianças e idosos assistidos pela entidade.
Para organizar o trabalho doméstico, Mamãe Clory contava com a ajuda de todos – cada um tinha a sua função e responsabilidades, fosse cuidar dos irmãos mais novos ou arrumar a cama. Mas eram vistos como iguais e não havia diferenciações ou preconceitos no Lar:
Embora reconhecida como de utilidade pública municipal, estadual e federal, a associação beneficente não recebe subvenções tampouco mantém convênios governamentais, se mantendo com recursos próprios, obtidos por meio de eventos, parcerias e doações.
O Lar da Mamãe Clory mantém diversas atividades como creche, apoio educacional, cultural e esportivo para adolescentes, núcleo de educação ambiental e núcleo de atendimento à família.
Clory Fagundes de Marques durante seus 94 anos foi mãe adotiva de mais de 1.500 filhos. Vivenciou o amor com força, atitudes sempre positivas, sabedoria e muita renúncia de si mesma, em função da caridade.
Os filhos de Mamãe Clory são hoje médicos, advogados, engenheiros e moram pelo Brasil afora. Alguns estão longe: USA, Canadá, Dinamarca, Suíça, Japão e Portugal.
A associação beneficente Mamãe Clory é um dos nomes mais importantes na Grande São Paulo na área de assistência social e de exemplo de ser humano comprometido com a caridade. Clory faleceu em 21 de novembro de 2011, aos 94 anos, deixando como legado de vida, fazer o bem sem olhar a quem e sem pedir nada em troca.